Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova
das coisas que se não vêem.
Hebreus
11:1
I-
Definição da Palavra
A
simples fé implica uma disposição de alma para confiar noutra pessoa. Difere de
credulidade, porque aquilo em que a fé
tem confiança é verdadeiro de fato, e, ainda que muitas vezes transcenda a
nossa razão, não lhe é contrário. A credulidade, porém, alimenta-se de coisas imaginárias, e é
cultivada pela simples imaginação. A fé difere da crença porque é uma confiança
do coração e não apenas uma aquiescência intelectual. A fé religiosa é uma
confiança tão forte em determinada pessoa ou princípio estabelecido, que produz
influência na atividade mental e espiritual dos homens, devendo, normalmente,
dirigir a sua vida. A fé é uma atitude, e deve ser um impulso.
A fé
cristã é uma completa confiança em Cristo, pela qual se realiza a união com o
Seu Espírito, havendo a vontade de viver a vida que Ele aprovaria. Não é uma
aceitação cega e desarrazoada, mas um sentimento baseado nos fatos da Sua vida,
da Sua obra, do Seu Poder e da Sua Palavra. A revelação é necessariamente uma
antecipação da fé. A fé é descrita como "uma simples mas profunda
confiança Naquele que de tal modo falou e viveu na luz, que instintivamente os
Seus verdadeiros adoradores obedecem à Sua vontade, estando mesmo às
escuras". A mais simples definição de fé é uma confiança que nasce do
coração.
II- A
Fé no AT
As
atitudes para com Deus que no NT a fé nos indica, é largamente designada no AT
pela palavra "temor". O temor está em primeiro lugar que a fé; a
reverência em primeiro lugar que a confiança. Mas é perfeitamente claro que a
confiança em Deus é princípio essencial no AT, sendo isso particularmente
entendido naquela parte do AT, que trata dos princípios que constituem o
fundamento das coisas, isto é, nos Salmos e nos Profetas. Não es está longe da
verdade, quando se sugere que o "temor do Senhor" contém, pelo menos
na sua expressão, o germe da fé no NT. As palavras "confiar" e
"confiança" ocorrem muitas vezes; e o mais famoso exemplo está,
certamente, na crença de Abraão (Gn 15.6), que nos escritos tanto judaicos como
cristãos é considerada como exemplo típico de fé na prática.
III- A
Fé, nos Evangelhos
Fé é
uma das palavras mais comuns e mais características do NT. A sua significação
varia um pouco, mas todas as variedades se aproximam muito. No seu mais simples
emprego mostra a confiança de alguém que, diretamente, ou de outra sorte,
está em contato com Jesus por meio da
palavra proferida, ou da promessa feita. As palavras ou promessas de Jesus
estão sempre, ou quase sempre, em determinada relação com a obra e a palavra de Deus. Neste sentido a fé é uma confiança
na obra, e na palavra de Deus ou de Cristo. É este o uso comum dos três
primeiros Evangelhos (Mt 9.29; 13.58; 15.28; Mc 5.34-36; 9.23; Lc 17.5,6). Esta
fé, pelo menos naquele tempo, implicava nos discípulos a confiança de que
haviam de realizar a obra para a qual Cristo lhes deu poder; é a fé que opera
maravilhas. Na passagem de Mc 11.22-24 a fé em Deus é a designada. Mas a fé
tem, no NT, uma significação muito mais larga e mais importante, um sentido
que, na realidade, não está fora dos três primeiros Evangelhos (Mt 9.2; Lc
7.50): é a fé salvadora que significa salvação. Mas esta idéia geralmente
sobressai no quarto evangelho, embora seja admirável que o nome "fé"
não se veja em parte alguma deste livro, sendo muito comum o verbo
"crer". Neste Evangelho acha-se representada a fé, como gerada em nós
pela obra de Deus (Jo 6.44), como sendo uma determinada confiança na obra e
poder de Jesus Cristo, e também um instrumento que, operando em nossos
corações, nos leva para a vida e para a luz (Jo 3.15-18; 4.41-53; 19.35; 20.31),
etc. Em cada um dos evangelhos, Jesus proclama-Se a Si mesmo Salvador, e requer
a nossa fé, como uma atitude mental que devemos possuir como instrumento que
devemos usar, e por meio do qual possamos alcançar a salvação que Ele nos
oferece. A tese é mais clara em João do que nos evangelhos sinóticos, mas é
bastante clara no último (Mt 18.6; Lc 8.12; 22.32).
IV- A
Fé, nas Cartas de Paulo
Nós
somos justificados, considerados justos, simplesmente pelos merecimentos de
Jesus Cristo. As obras não têm valor, são obras de filhos rebeldes. A fé não é
uma causa, mas tão somente o instrumento, a estendida mão, com a qual nos
apropriamos do dom da justificação, que Jesus pelos méritos expiatórios, está
habilitado a oferecer-nos. Este é o ensino da epístola aos Romanos (3 a 8), e o
da epístola aos Gálatas. Nos realmente estamos sendo justificados, somos
santificados ela constante operação e influência do Santo Espírito de Deus, esse grande dom
concedido à igreja e a nós pelo Pai por meio de Jesus. E ainda nesta consideração
a fé tem uma função a desempenhar, a de meio pelo qual nos submetemos à
operação do E. Santo (Ef 3.16-19).
V- Fé e
Obras
Tem-se
afirmado que há contradição entre Paulo e Tiago, com respeito ao lugar que a fé
e as obras geralmente tomam, e especialmente em relação a Abraão (Rm 4.2; Tg
2.21).
Fazendo
uma comparação cuidadosa entre os dois autores, acharemos depressa que Tiago,
pela palavra fé, quer significar uma estéril e especulativa crença, uma simples
ortodoxia, sem sinal de vida espiritual. E pelas obras quer ele dizer as que
são provenientes da fé. Nós já vimos o que Paulo ensina a respeito a fé. É ela
a obra e dom de Deus na sua origem, e não meramente na cabeça; é uma profunda
convicção de que são verdadeiras as promessas de Deus em Cristo, por uma
inteira confiança Nele; e deste modo a fé é uma fonte natural e certa de obras,
porque se trata duma fé viva, uma fé que atua pelo amor (Gl 5.6).
Paulo
condena aquelas obras que, sem fé, reclamam mérito para si próprio; ao passo
que Tiago recomenda aquelas obras que é a conseqüência da fé e justificação,
que são, na verdade, uma prova de justificação. Tiago condena uma fé morta;
Paulo louva uma fé viva. Não há, pois, contradição. A fé viva, a fé que
justifica e que se manifesta por meio daquelas boas obras, agradáveis a Deus, pode ser conhecida naquela frase já
citada: "a fé que atua pelo amor".
Dicionário
Bíblico Universal
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