“Esta é uma palavra fiel: Se alguém deseja o episcopado, excelente
obra deseja. Convém, pois, que o bispo seja irrepreensível, marido de uma
mulher, vigilante, sóbrio, honesto, hospitaleiro, apto para ensinar.”
1Tm 3.1,2
Se
algum homem deseja ser “bispo” (gr. episkopos, i.e., aquele que tem sobre si a
responsabilidade pastoral, o pastor), deseja um encargo nobre e importante
(3.1). É necessário, porém, que essa aspiração seja confirmada pela Palavra de
Deus (3.1-10; 4.12) e pela igreja (3.10), porque Deus estabeleceu para a igreja
certos requisitos específicos. Quem se disser chamado por Deus para o trabalho
pastoral deve ser aprovado pela igreja segundo os padrões bíblicos de 3.1-13;
4.12; Tt 1.5-9 (ver o estudo DONS MINISTERIAIS PARA A IGREJA). Isso significa
que a igreja não deve aceitar pessoa alguma para a obra ministerial tendo por
base apenas seu desejo, sua escolaridade, sua espiritualidade, ou porque essa
pessoa acha que tem visão ou chamada. A igreja da atualidade não tem o direito
de reduzir esses preceitos que Deus estabeleceu mediante o Espírito Santo. Eles
estão plenamente em vigor e devem ser observados por amor ao nome de Deus, ao
seu reino e da honra e credibilidade da elevada posição de ministro.
(1) Os
padrões bíblicos do pastor, como vemos aqui, são principalmente morais e
espirituais. O caráter íntegro de quem aspira ser pastor de uma igreja é mais
importante do que personalidade influente, dotes de pregação, capacidade
administrativa ou graus acadêmicos. O enfoque das qualificações ministerais
concentra-se no comportamento daquele que persevera na sabedoria divina, nas
decisões acertadas e na santidade devida. Os que aspiram ao pastorado sejam
primeiro provados quanto à sua trajetória espiritual (cf. 3.10). Partindo daí,
o Espírito Santo estabelece o elevado padrão para o candidato, i.e., que ele
precisa ser um crente que se tenha mantido firme e fiel a Jesus Cristo e aos
seus princípios de retidão, e que por isso pode servir como exemplo de
fidelidade, veracidade, honestidade e pureza. Noutras palavras, seu caráter
deve demonstrar o ensino de Cristo em Mt 25.21 de que ser “fiel sobre o pouco”
conduz à posição de governar “sobre o muito”.
(2) O
líder cristão deve ser, antes de mais nada, “exemplo dos fiéis” (4.12; cf. 1Pe
5.3). Isto é: sua vida cristã e sua perseverança na fé podem ser mencionadas
perante a congregação como dignas de imitação.(a) Os dirigentes devem
manifestar o mais digno exemplo de perseverança na piedade, fidelidade, pureza
em face à tentação, lealdade e amor a Cristo e ao evangelho (4.12,15).(b) O
povo de Deus deve aprender a ética cristã e a verdadeira piedade, não somente
pela Palavra de Deus, mas também pelo exemplo dos pastores que vivem conforme
os padrões bíblicos. O pastor deve ser alguém cuja fidelidade a Cristo pode ser
tomada como padrão ou exemplo (cf. 1Co 11.1; Fp 3.17; 1Ts 1.6; 2Ts 3.7,9; 2Tm
1.13).
(3) O
Espírito Santo acentua grandemente a liderança do crente no lar, no casamento e
na família (3.2,4,5; Tt 1.6). Isto é: o obreiro deve ser um exemplo para a
família de Deus, especialmente na sua fidelidade à esposa e aos filhos. Se aqui
ele falhar, como “terá cuidado da igreja de Deus?” (3.5). Ele deve ser “marido
de uma [só] mulher” (3.2). Esta expressão denota que o candidato ao ministério
pastoral deve ser um crente que foi sempre fiel à sua esposa. A tradução
literal do grego em 3.2 (mias gunaikos, um genitivo atributivo) é “homem de uma
única mulher”, i.e., um marido sempre fiel à sua esposa.
(4)
Conseqüentemente, quem na igreja comete graves pecados morais, desqualifica-se
para o exercício pastoral e para qualquer posição de liderança na igreja local
(cf. 3.8-12). Tais pessoas podem ser plenamente perdoadas pela graça de Deus,
mas perderam a condição de servir como exemplo de perseverança inabalável na
fé, no amor e na pureza (4.11-16; Tt 1.9). Já no AT, Deus expressamente
requereu que os dirigentes do seu povo fossem homens de elevados padrões morais
e espirituais. Se falhassem, seriam substituídos (ver Gn 49.4 nota; Lv 10.2 nota;
21.7,17 notas; Nm 20.12 nota; 1Sm 2.23 nota; Jr 23.14 nota; 29.23 nota).
(5) A
Palavra de Deus declara a respeito do crente que venha a adulterar que “o seu
opróbrio nunca se apagará” (Pv 6.32,33). Isto é, sua vergonha não desaparecerá.
Isso não significa que nem Deus nem a igreja perdoará tal pessoa. Deus
realmente perdoa qualquer pecado enumerado em 3.1-13, se houver tristeza
segundo Deus e arrependimento por parte da pessoa que cometeu tal pecado. O que
o Espírito Santo está declarando, porém, é que há certos pecados que são tão
graves que a vergonha e a ignomínia (i.e., o opróbrio) daquele pecado
permanecerão com o indivíduo mesmo depois do perdão (cf. 2Sm 12.9-14).
(6) Mas
o que dizer do rei Davi? Sua continuação como rei de Israel, a despeito do seu
pecado de adultério e de homicídio (2Sm 11.1-21; 12.9-15) é vista por alguns
como uma justificativa bíblica para a pessoa continuar à frente da igreja de
Deus, mesmo tendo violado os padrões já mencionados. Essa comparação, no
entanto, é falha por vários motivos. (a) O cargo de rei de Israel do AT, e o
cargo de ministro espiritual da igreja de Jesus Cristo, segundo o NT, são duas
coisas inteiramente diferentes. Deus não somente permitiu a Davi, mas, também a
muitos outros reis que foram extremamente ímpios e perversos, permanecerem como
reis da nação de Israel. A liderança espiritual da igreja do NT, sendo esta
comprada com o sangue de Jesus Cristo, requer padrões espirituais muito mais
altos. (b) Segundo a revelação divina no NT e os padrões do ministério ali
exigidos, Davi não teria as qualificações para o cargo de pastor de uma igreja
do NT. Ele teve diversas esposas, praticou infidelidade conjugal, falhou
grandemente no governo do seu próprio lar, tornou-se homicida e derramou muito
sangue (1Cr 22.8; 28.3). Observe-se também que por ter Davi, devido ao seu
pecado, dado lugar a que os inimigos de Deus blasfemassem, ele sofreu castigo
divino pelo resto da sua vida (2Sm 12.9-14).
(7) As
igrejas atuais não devem, pois, desprezar as qualificações justas exigidas por
Deus para seus pastores e demais obreiros, conforme está escrito na revelação
divina. É dever de toda igreja orar por seus pastores, assisti-los e
sustentá-los na sua missão de servirem como “exemplo dos fiéis, na palavra, no
trato, na caridade, no espírito, na fé, na pureza” (4.12).
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