Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de
que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade.
2 Timóteo 2.15
Há
quase 20 anos, fui convidado pela primeira vez para participar de uma agência
nacional de pregadores. Um companheiro de púlpito me ofereceu um cartão e
disse: “Seria um prazer tê-lo em nossa agência”. Então, lhe perguntei: “Como
funciona essa agência?” E a sua resposta me deixou estarrecido: “As igrejas
ligam para nós, especificam que tipo de pregador desejam ter em seu evento, e
nós cuidamos de tudo. Negociamos um bom cachê”.
É
impressionante como o pregador, nos últimos anos, se transformou em um produto.
Há alguns meses, depois de eu ter pregado em uma igreja (não me pergunte onde),
certo pastor me disse: “Gostei da sua pregação, mas o irmão conhece algum
pregador de vigília?” Achei curiosa essa pergunta, pois eu gosto de oração, já
preguei várias vezes em vigílias, porém, segundo aquele irmão sugeriu, eu não
serviria para pregar em uma vigília!
Em
nossos dias — para tristeza do Espírito Santo — pertencer a uma agência de
pregadores tornou-se comum e corriqueiro. E os convites para ingressar nessas
agências chegam principalmente pela Internet. Nos sites de relacionamento
encontramos comunidades pelas quais os internautas mencionam quem é o seu
pregador preferido e por quê. Certa jovem, num tópico denominado “O melhor
pregador”, declarou: “Não existe ninguém melhor que ninguém; cada um tem a sua
maneira de pregar, e cada pessoa avalia segundo o seu gosto”.
Ela tem
razão. Ser pregador, hoje em dia, não basta. Você tem de atender às
preferências do povo. Já ouvi irmãos conversando e dizendo: “Fulano é um ótimo
pregador, mas não é pregador de congresso” ou “Fulano tem muito conhecimento,
mas não gosta do reteté”.
Conheçamos
alguns tipos de pregadores e seus públicos-alvo:
Pregador
humorista. Diverte muito o seu público-alvo. Tem habilidade para contar fatos
anedóticos (ou piadas mesmo) e fazer imitações. Ele é como o famoso humorista
do gênero stand-up comedy Chris Rock (que aparece na imagem acima). De vez em
quando cita versículos. Mas os seus admiradores não estão interessados em ouvir
citações bíblicas. Isso, para eles, é secundário.
Pregador
“de vigília”. Também é conhecido como pregador do reteté. Aparenta ter muita
espiritualidade, mas em geral não gosta da Bíblia, principalmente por causa de
1 Coríntios 14, especialmente os versículos 37 e 40: “Se alguém cuida ser
espiritual, reconheça que as coisas que vos escrevo são mandamentos do
Senhor... faça-se tudo decentemente e com ordem”. Quando ele vê alguém
manejando bem a Palavra da verdade (2 Tm 2.15), considera-o frio e sem unção.
Ignora que o expoente que agrada a Deus precisa crescer na graça e no
conhecimento (2 Pe 3.18; Jo 1.14; Mt 22.29). Seu público parece embriagado e é
capaz de fazer tudo o que ele mandar.
Pregador
“de congresso”. Entre aspas porque existe o pregador de congresso que faz jus
ao título. Mas o pregador “de congresso” (note: entre aspas) anda de mãos dadas
com o pregador “de vigília”, mas é mais famoso. Segundo os admiradores dessa
modalidade, trata-se do pregador que tem presença de palco e muita “unção”.
Também conhecido como pregador malabarista ou animador de auditórios, fica o
tempo todo mandando o seu público repetir isso e aquilo, apertar a mão do irmão
ao lado, beliscá-lo... Se for preciso, gira o paletó sobre a cabeça, joga-o no
chão, esgoela-se, sopra o microfone, emite sons de metralhadora, faz gestos que
lembram golpes de artes marciais... Exposição bíblica que é bom... quase nada!
Pregador
“de congresso” agressivo. É aquele que tem as mesmas características do
pregador acima, mas com uma “qualidade” a mais. Quando percebe que há no
púlpito alguém que não repete os seus bordões, passa a atacá-lo indiretamente.
Suas principais provocações são: “Tem obreiro com cara de delegado”, “Hoje a sua
máscara vai cair, fariseu”, “Você tem cara amarrada, mas você é minoria”. Estas
frases levam o seu fanático público ao delírio, e ele se satisfaz em humilhar
as pessoas que não concordam com a sua postura espalhafatosa.
Pregador pop star. Seu pregador-modelo é o show-man Benny Hinn, e não o Senhor Jesus. É
um tipo de pregador admirado por milhares de pessoas. Já superou o pregador de
congresso. É um verdadeiro artista. Veste-se como um astro; sua roupa é
reluzente. Ele, em si, chama mais a atenção que a sua pregação. É hábil em
fazer o seu público a abrir a carteira. Seus admiradores, verdadeiros fãs, são
capazes de dar a vida pelo seu pregador-ídolo. Eles não se importam com as
heresias e modismos dele. Trata-se de um público que supervaloriza o carisma,
em detrimento do caráter.
Pregador
milagreiro. Também tem como paradigma Benny Hinn, mas consegue superar o seu
ídolo. Sua exegese é sofrível. Baseia-se, por exemplo, em 1 Coríntios 1.25,
para pregar sobre “a unção da loucura de Deus”. Cativa e domina o seu público,
que, aliás, não está interessado em ouvir uma exposição bíblica. O que mais
deseja é ver sinais, como pessoas lançadas ao chão supostamente pelo poder de
Deus e fenômenos controversos. Em geral, o pregador milagreiro, além de
ilusionista e “poderoso” (Dt 13.1-4), é aético e sem educação. Mesmo assim,
ainda que xingue ou ameace os que se opõem às suas sandices e invencionices, o
seu público é fiel e sempre diz “aleluia”.
Pregador
contador de histórias. Conta histórias como ninguém, mas não respeita as
narrativas bíblicas, acrescentando-lhes pormenores que comprometem a sã
doutrina. Costuma contextualizar o texto sagrado ao extremo. Ouvi certa vez um
famoso pregador dizendo: “Absalão, com os seus longos cabelos, montou na sua
motoca e vruuum...” Seu público — diferentemente dos crentes de beréia, que examinavam
“cada dia nas Escrituras se estas coisas eram assim” (At 17.11) — recebe de bom
grado histórias extrabíblicas e antibíblicas.
Pregador
cantante. Indeciso quanto à sua chamada. Costuma cantar dois ou três hinos
(hinos?) antes da pregação e outro no meio dela. Ao final, canta mais um. Seu
público gosta dessa “versatilidade” e comemora: “Esse irmão é uma bênção! Prega
e canta”. Na verdade, ele não faz nenhuma das duas coisas bem.
Pregador
“massagista”. É hábil em dizer palavras que massageiam os egos e agradam os
ouvidos (2 Tm 4.1-5). Procura agradar a todos porque a sua principal motivação
é o dinheiro. Ele não tem outra mensagem, a não ser “vitória”, principalmente a
financeira. Talvez seja o tipo de pregador com maior público, ao lado dos
pregadores humorista, pop star e milagreiro.
Pregador
sem graça. É aquele que não tem a graça de Deus (At 4.33). Sua pregação tem
bastante conteúdo, mas é como uma espada: comprida e chata (maçante,
enfadonha). Mas até esse tipo de pregador tem o seu público, formado pelos
irmãos que gostam de dormir ou conversar durante a pregação.
Pregador
chamado por Deus (1 Tm 2.7). Prega a Palavra de Deus com verdade. Estuda a
Bíblia diariamente. Ora. Jejua. É verdadeiramente espiritual. Tem compromisso
com o Deus da Palavra e com a Palavra de Deus. Seu paradigma é o Senhor Jesus
Cristo, o maior pregador que já andou na terra. Ele não prega para agradar ou
agredir pessoas, e sim para cumprir o seu chamado. Seu público — que não é a
maioria, posto que são poucos os fiéis (Sl 12.1; 101.6) — sabe que ele é um
profeta de Deus. Esse tipo de pregador está em falta em nossos dias, mas não
chama muito a atenção das agências de pregadores. A bem da verdade, estas
também sabem que nunca poderão contar com ele...
Qual é
a sua modalidade preferida, prezado leitor? Você pertence a qual público? E
você, pregador, qual dos perfis apresentados mais lhe agrada?
Deus te abençoe.
Deus te abençoe.
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