Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós;
porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado no madeiro;
Gálatas
3.13
Uma das
tendências do movimento de 'Batalha Espiritual' é adicionar à obra de Cristo
uma complementação feita por peritos em maldições. É ensinada claramente a
necessidade de se quebrar as maldições hereditárias e de se anular compromissos
que ficaram pendentes com o diabo, mesmo após a pessoa ter sido convertida a
Cristo. Ensina-se que herdamos as maldições que acompanharam nossos
antepassados, por causa de seus pecados e pactos demoníacos, e que precisamos
anulá-las.
Êxodo
20 e Ezequiel 18
Geralmente
o texto usado para defender este ponto é Êxodo 20.5, em que Deus ameaça visitar
a maldade dos pais nos filhos até a terceira e quarta geração dos que o
aborrecem. Entretanto, ensinar que Deus faz cair sobre os filhos as
conseqüências dos pecados dos pais, é só metade da verdade revelada.
A
Escritura nos diz igualmente que se um filho de pai idólatra e adúltero vir as
obras más de seu pai, temer a Deus e andar em seus caminhos, nada do que o pai
fez virá a cair sobre ele. A conversão e o arrependimento individuais
"quebram", na existência das pessoas, a "maldição
hereditária" (um efeito somente possível por causa da obra de Cristo).
Este foi o ponto enfatizado pelo profeta Ezequiel em sua pregação ao povo de
Israel da época (leia cuidadosamente Ezequiel 18). A nação de Israel havia sido
levada em cativeiro para a Babilônia, e os judeus cativos se queixavam de Deus
dizendo "Os pais comeram uvas verdes e os dentes dos filhos é que se
embotaram...” (Ezequiel 18.2b) - ou seja, "nossos pais pecaram, e nós é
que sofremos as conseqüências". Eles estavam transferindo para seus pais a
responsabilidade pelo castigo divino que lhes sobreveio, que foi o desterro
para a terra dos caldeus. Achavam que era injusto que estivessem pagando pelo
pecado de idolatria dos seus pais. Usavam um provérbio da época, que nos nossos
dias seria mais ou menos assim: "Nossos pais comeram a feijoada, mas nós é
que tivemos a dor de barriga...”.
Através
do profeta Ezequiel, Deus os repreendeu, afirmando que a responsabilidade moral
é pessoal e individual diante dele: "A alma que pecar, essa morrerá; o
filho não levará a iniqüidade do pai... " (Ezequiel 18.4b, 20). E que pela
conversão e por uma vida reta, o indivíduo está livre da "maldição"
dos pecados de seus antepassados (ver 18.14-19). Esta passagem é muito
importante, pois nos mostra de que maneira o próprio Deus interpreta (através
de Ezequiel) o significado de Êxodo 20.5. Ou seja, o segundo mandamento prevê a
visitação do juízo divino sobre os descendentes de homens ímpios, descendentes
estes que aborrecem a Deus como seus pais. Várias passagens no próprio
Pentateuco deixam claro que a retribuição divina sobre os filhos dos que
aborrecem a Deus é descontinuada a partir do momento em que estes filhos se
arrependem de seus próprios pecados, e os confessam a Deus, confessando
igualmente os pecados de seus pais, como Levítico 26.39-42.
Encontramos
a mesma idéia em Números 14.13-34. Nesta passagem vemos claramente como a
misericórdia e a longanimidade de Deus atuam em conjunto com sua justa ira
contra os rebeldes e pecadores. Após a revolta do povo de Israel contra Deus,
inflamados pelo relato desanimador dos dez espias incrédulos, o Senhor Deus
condenou aquela geração incrédula a perecer no deserto. Seus filhos haveriam de
levar sobre si as infidelidades de seus pais, até que estes morressem (v.33),
após o que, os filhos entrariam na terra (v. 31). Aplicando aos nossos dias,
fica evidente que o crente verdadeiro já rompeu com seu passado e com as
implicações espirituais dos pecados dos seus antepassados, quando, arrependido,
veio a Cristo em fé.
Augustus
Nicodemus Lopes
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