E, não achando por onde o pudessem levar, por causa da multidão,
subiram ao telhado, e por entre as telhas o baixaram com a cama, até ao meio,
diante de Jesus.
Lucas
5.19
“E
deixando Nazaré, Jesus foi habitar em Cafarnaum, cidade marítima, nos confins
de Zebulon e Naftali, para que se cumprisse a profecia de Isaías”.
Cafarnaum
localizava-se na costa ocidental do mar da Galileia, na fronteira entre duas
tribos antigas: Zebulon e Naftali. Uma profecia de Isaías dizia que a chegada
de Jesus no local iria trazer libertação dos inimigos. Isaías 9.1,2 “Mas para a
terra que estava aflita não continuará a obscuridade. Deus, nos primeiros
tempos, tornou desprezível a terra de Zebulon e a terra de Naftali; mas nos
últimos dias, tornará glorioso o caminho do mar, além do Jordão, a Galileia dos
gentios. O povo que andava em trevas viu uma grande luz, e aos que viviam na
região da sombra da morte, resplandeceu-lhes a luz”. Assim, em Cafarnaum Jesus
opera muitos milagres, dentre os quais destacarei a cura de um paralitico
descrita nos Evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas.
"A
ti te digo:Levanta-te, toma o teu leito, e vai para tua casa.E levantou-se e,
tomando logo o leito, saiu em presença de todos, de sorte que todos se
admiraram e glorificaram a Deus, dizendo: Nunca tal vimos." Marcos 2.11-12
Aconteceu
na casa de Simão Pedro. Jesus estava reunido ali com os fariseus quando as
pessoas ficaram sabendo e se aproximaram para ouvi-Lo. Era tanta gente que a
porta principal da casa ficou lotada, interditada, ninguém podia mais entrar ou
sair, a não ser quando a reunião terminasse. E eis que quatro homens apressados
e decididos a falar com Jesus surgem entre a multidão, carregavam uma maca e
nela estava deitado um paralitico, impossibilitado de movimentar pernas, braços
e de voz prejudicada. Seus amigos eram as “mãos, pés e voz” do homem
escravizado pela doença. Eles queriam falar com Jesus, precisavam falar com
Ele. Só que, apesar da urgência e do estado, ninguém deu passagem. Todos e cada
um estavam ocupados demais com seus próprios problemas e a solução deles, o
paralitico, era apenas mais um que buscava desesperadamente a cura.
Nem
todos têm sensibilidade para perceber as necessidades do outro e encará-las com
a mesma dor de quem a vive e ainda que o problema seja visível, poucos se
dispõem a ajudar. No caso do paralitico de Cafarnaum, entre 100, 200, mais ou
menos, quatro amigos foram sensíveis e determinados na busca pela felicidade do
semelhante. De forma admirável, eles empreenderam tempo e esforço em busca de
algo que parecia difícil de realizar, e quem sabe, por esse motivo, as pessoas
não tenham aberto o caminho, dado passagem para a maca e o doente. Para eles,
aquele era um caso perdido. Mas, no coração dos amigos do paralitico, a fé já
havia brotado, criado raízes, e agora, eles estavam ali, em busca do fruto da fé.
Tinham certeza que estavam na hora e no lugar certo e nada poderia lhes impedir
de ver o milagre.
Fico
imaginando esses homens, enquanto carregavam a maca, conversando entre eles
sobre o que Jesus já havia feito nas redondezas: ressuscitado mortos, curado
leprosos, expulsado demônios. Apressados, cambaleando a maca de um lado para
outro, mas tão designados que despertaram admiração no Filho de Deus: “Vendo a
fé deles, Jesus disse ao paralitico: Filho, os teus pecados te são perdoados”
Marcos 2.4. A maneira como chegam até Jesus, é no mínimo extraordinária! Já que
ninguém lhes dá passagem, eles sobem até o telhado da casa, abrem um buraco no
teto e descem o amigo paralitico até o centro da sala, onde Jesus estava.
Quanta fé! As casas da antiga palestina tinham abertura no telhado, pois, era
comum espalhar trigo ou outros cereais na eira para que o vento carregasse a
palha, limpando o grão (Rute 3). Também era costume manter uma escada fixa ou
móvel ao lado da casa para possibilitar a subida ao telhado. Os amigos do
paralitico de Cafarnaum certamente usaram a escada, e não deve ter sido nada
fácil chegar ao cume da casa carregando a maca sob olhares curiosos, incrédulos
e as dificuldades próprias da missão.
Essa é
uma grande lição para todos nós. A fé exige ação. Os homens buscaram o milagre,
foram ao encontro de Jesus e por mais que houvesse obstáculos, eles não
desistiram. Não sentiram vergonha ou desanimo. Não esmoreceram diante da
passividade das pessoas. Eles não buscavam aprovação dos homens, não estavam
interessados sobre o que iam falar deles, mas buscaram Jesus. Os fariseus
estavam sentados dentro do recinto e quando viram o homem descer pelo telhado e
Jesus o perdoar dos pecados, não deram glória, nem se compadeceram, mas ficaram
furiosos e julgaram ser Jesus um enganador arrogante se fazendo passar por
Messias: “Por que fala desse modo? Isto é blasfêmia! Quem pode perdoar pecados
senão um que é Deus?” Marcos 2.7. Os fariseus estavam entre os mais importantes
religiosos de Israel e não tinham discernimento espiritual, porque eram
orgulhosos, cheios de si mesmos. Mas os humildes homens que carregavam a maca,
eram simples moradores de Cafarnaum. Pequenos diante dos homens, mas grandes
diante de Deus. Não tiveram receio de se humilharem por uma boa causa, de amor
ao próximo.
E de
repente, o desprezível cortejo da maca que até pouco tempo implorava por entrar
na casa pela porta, sem ser ouvido, recebe a atenção do Mestre da vida e se
torna o centro da atenção de todos. O paralitico de Cafarnaum, estava doente
por causa do pecado e foi primeiramente perdoado, em seguida curado da
paralisia. Foi quando desceu pelo telhado, como um grão de trigo caindo em
terra, morrendo para o mundo e escolhendo viver para Deus que recebeu
libertação. E como profetizou Isaías: o homem que estava assentado sobre as
trevas, viu uma grande Luz, chamada Jesus! Nem toda enfermidade é ocasionada
pelo pecado, mas a desse homem era e deve ter ocorrido de maneira progressiva,
privando-lhe de felicidade. O paralitico de Cafarnaum era prisioneiro duas
vezes: do pecado e da doença. Não bastaria devolver-lhe a saúde física se sua
condição espiritual era a causa de todos os seus males. E aqui cabe a nós
compreendermos que Jesus veio para libertar o homem por inteiro (Isaías 54). Em
que outro lugar o paralitico Galileu encontraria tamanho favor? Em que outro
lugar nós encontraríamos tamanho favor? Somente em Jesus.
É
louvável a fé desses homens que carregaram o amigo sob a maca. Eles demonstram
a importância da intercessão. O comportamento do doente também contribuiu para
a realização do milagre: apesar de seu estado critico, era um homem que exercia
certa influência em seu meio social. Sua presença era querida. E como não devem
ter saído daquele lugar feliz, saltitando, glorificando a Deus. Um testemunho
que aproximou muitas outras vidas de Jesus. Aquele buraco no teto testemunha
também o nosso favor. Se forem muitos os obstáculos, por mais que digam que é
impossível, improvável, se o Caminho é Jesus a Luz haverá de raiar. Assim como
raiou nos confins de Zebulon e Naftali.
Deus o
abençoe
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