Restitui-me a alegria da tua salvação, e sustenta-me com um espírito
voluntário. Então ensinarei aos transgressores os teus caminhos, e os pecadores
se converterão a ti.
Salmo 51.12-13
Certa
ocasião uma pessoa me indagou: Será que somos hoje uma igreja de convertidos ou
de convencidos? Não é fácil identificar formalmente o convertido do convencido.
Há uma grande dificuldade em perceber o perfil correto de um convertido, em
face, muitas vezes, da conduta exemplar do convencido. Com freqüência enfrentamos
uma séria barreira na compreensão adequada da conversão, porque os expedientes
condicionadores da educação religiosa exercem uma camuflagem quase perfeita no
esquema das aparências. Alguém já disse que o homem reto tem virtudes além do
que pode expressar, mas o hipócrita expressa muito além das virtudes que
possui. Sendo assim, o mimetismo do convencido se torna uma tarefa extremamente
árdua em parecer aquilo que de fato não é. O mausoléu de mármore enfeita muito
bem a podridão do cadáver. Mas o formalismo da educação religiosa é tão vazio
de significado, como a clara do ovo é destituída de sabor. Mesmo sabendo que há
razoáveis semelhanças comportamentais entre um convertido e um convencido, e
bom lembrar que suas diferenças são fundamentais para não nos deixar
confundidos por muito tempo.
Uma
coisa é ser convertido pela graça de Deus, outra bem diferente é tornar-se
prosélito de um sistema religioso. Jesus desaprovou a tática do caçador, com
esta censura:
Ai de
vocês, mestres da lei e fariseus, hipócritas, porque percorreis terra e mar
para fazer um prosélito e, quando conseguem, vocês o tornam duas vezes filhos
do inferno do que vocês. Mateus 23:15.
Um
prosélito é uma pessoa convencida a um sistema sem a transformação do seu caráter,
por meio da obra suficiente de Cristo. O prosélito se constitui num praticante
ritual, privado totalmente da vida espiritual. Mas ele focaliza com tanta
potência os seus holofotes sobre os outros, que fica quase impossível de
enxergar o que está acontecendo por trás da luz.
Sabemos
muito bem que o condicionamento repressivo de um sistema religioso austero,
pode forjar hábitos morais extremamente válidos para convivência social. Muitas
pessoas em razão de sua rígida ética religiosa estão livres de uma vida na
cadeia, mas não isentas da condenação eterna. A civilidade institucional nada
tem a ver com a etiqueta espiritual autêntica, ainda que as analogias
dificultem o julgamento. Atos corretos nem sempre correspondem atitudes
justificáveis. Um procedimento honesto pode estar motivado por interesses
imorais ocultos. Não nos devemos iludir com as aparências: O tambor, apesar de
todo o barulho que faz, está somente cheio de ar. Convencidos sinceros podem
apresentar uma peça teatral bastante convincente. O disfarce mais astuto se
caracteriza por um rosto de anjo encobrindo um coração de demônio.
Muitos
me dirão naquele dia: Senhor,! Senhor, não profetizamos nós em teu nome? E em
teu nome não expulsamos demônios? E em teu nome não fizemos muitos milagres?
Então lhes direi abertamente: nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, vós que praticais
a iniquidade. Mateus 7.22-23.
Eis
aqui um grande problema: Convencer o convencido que ele não é convertido. É
mais difícil esmagar uma meia mentira do que uma mentira completa. É muito mais
fácil se pregar para um pecador perdido e perverso, do que pregar para um
crente convencido. Henry W. Beecher dizia: A presunção é a doença da alma
humana mais difícil de ser curada. A falsa conversão é muito pior do que a
total ignorância.
Davi
colocou a conversão como conseqüência do conhecimento dos caminhos do Senhor.
Na verdade o homem precisa conhecer o Caminho do Senhor.
Assim
diz o Senhor: Ponde-vos nos caminhos, e vede; perguntai pela veredas antigas, qual
é o caminho, e andai por ele, e achareis descanso para as vossas almas. Mas
eles disseram: Não andaremos nele. Jeremias 6:16.
Assim
como Cristo é a razão pela qual o santo nasce, e a raiz pela qual o santo
cresce, é também, o caminho pelo qual o santo anda.
Eu sou
o caminho, a verdade e a vida. E ninguém vem ao Pai senão por mim. João 14:6.
A
verdadeira experiência da conversão é a dependência completa de Jesus Cristo
como nosso Salvador e Senhor. Isto significa inteira renúncia de nós mesmos e
total cobertura da suficiência de Cristo. Andar neste Caminho é subordinar toda
a nossa existência ! no perímetro absoluto de sua graça.
O
convertido é alguém que pela graça deixou de se esforçar para ser aceito, uma
vez que Deus já o aceitou em Cristo: Enquanto, o convencido busca a sua
aceitação no exercício enfadonho do cumprimento zeloso da lei. Ninguém consegue
encobrir aquilo que Deus revela, muito menos manifestar o que Deus oculta. Se
não há revelação do Espírito a respeito da pessoa de Cristo e de seu
sacrifício, tão pouco haverá consciência real da obra da conversão. Mesmo que o
comportamento honesto fale de uma personalidade digna, somente a conversão
genuína pode patentear a santidade do coração. Não devemos confundir a santidade
produzida por Jesus Cristo, com a honestidade decorrente de uma moral ilibada,
firmada nas bases da lei. Muitos homens ao serem convertidos não tiveram
mudanças comportamentais significativas. O apostolo Paulo disse que: Segundo a
justiça da lei, eu era ir! repreensível. Filipenses 3:6b. A sua grande
transformação ficou por conta dos propósitos ou intenções do coração,
resultantes da conversão operada por Deus. Paulo era homem sério na sua conduta
e sincero na filosofia de vida. Mas quando o Espírito o converteu a Cristo, a
vida santa de Cristo passou a ser a santidade do seu coração. Alguém me disse
recentemente de uma descoberta gloriosa: Jesus não só me substitui na cruz,
morrendo em meu favor; mas me substitui na existência, vivendo em meu lugar.
Eu
estou crucificado com Cristo, e já não vivo, mas Cristo vive em mim. Gálatas 2.20.
A
santidade derivada da conversão é a própria suficiência da vida de Cristo
satisfazendo as necessidades mais profundas do coração.
Se o
convertido é a única pessoa no mundo que se encontra perfeitamente satisfeita
por causa da santidade de Cristo manifesta em seu interior, o convencido é uma
pessoa internamente descontente em razão da incoerência marcante refletida nas
aparências. Demonstrar na fachada aquilo que não se é por dentro, causa um
desconforto insuportável, capaz das maiores tragédias. A máscara do fingimento
não pode garantir a verdadeira felicidade, pois o disfarce da hipocrisia produz
débito insolúvel na consciência reprimida. J. Blanchard afirmou que a
felicidade superficial sem a santidade espiritual é um dos principais produtos
de exportação do inferno. E podemos ter absoluta certeza que é totalmente
impossível haver santidade espiritual, se não houver conversão cristã legítima.
Assim, a pessoa convertida vive pela fé na sujeição completa da suficiência de
Cristo e na atitude permanente de profundo arrependimento. Quando a Palavra de
Deus converte um homem, tira dele seu desespero, mas não seu arrependimento, ensinava
C. H. Spurgeon. O homem convertido não é um mero convencido que se arrependeu e
creu, mas um contínuo confiante que vive arrependido pela graça que o alcançou.
Somente Deus vê o coração convertido e somente o coração convertido pode ver a
Deus. Não confunda convertido com convencido, pois este equívoco pode ser
fatal. Mas também, não julgue a experiência dos outros, pois cada um tem que
avaliar a sua própria experiência.
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