Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de
que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade.
2
Timóteo 2.15
A
igreja evangélica tem experimentado uma crise de liderança. Pela seriedade do
assunto, convido você, leitor, que medite nos exemplos de Diótrefes e Demétrio,
os personagens principais da terceira epístola de João. O cristão deve buscar
ser um bom líder servindo a Igreja em santidade e não visando seus próprios
interesses. QUAL DESSES DOIS PERSONAGENS SÃO EXEMPLOS DE LIDERANÇA SERVIDORA? Vamos
analisar... Com quem se parece mais o nosso estilo de liderança.
I. O
Mau Exemplo de Liderança (9,10)
As
instruções apostólicas de João parecem não ter sido acolhida (v.9) por causa de
um líder local daquela comunidade, Diótrefes, a quem o apóstolo afirma que
repreenderia pessoalmente em tempo oportuno (v.10). Enquanto não era possível
visitá-los, João tratou de mostrar algumas características no comportamento
daquele homem que o tornava um exemplo de má liderança
A.
Abuso de Poder
Havia
um grande problema com Diótrefes. Ele não entendia o princípio que deve
revestir aquele que exerce liderança na igreja. O cargo é uma maneira de servir
de forma ainda mais intensa, e não de ser servido. Nessa mesma direção, a
recomendação de Paulo é bastante assertiva: “… preferindo-vos em honra uns aos
outros.” (Romanos 12.10b).
Jesus
deu várias mostras de como o líder deveria servir com humildade (Mateus 23.11;
Lucas 22.26-27). Bastaria para isso seguir seu exemplo! O serviço é a essência
do ministério e não obedecer a esse princípio é abusar da autoridade conferida.
Por essa razão, Pedro aconselhou os outros presbíteros a exercerem suas funções
não “como dominadoras” (1 Pedro 5.3).
Certa
vez Jesus reprimiu severamente seus discípulos porque estavam secularizando a
liderança cristã. “Os reis dos povos dominam sobre eles, e os que exercem autoridade
são chamados benfeitores. Mas vós não
sois assim; pelo contrário, o maior entre vós seja como o menor; e aquele que
dirige seja como o que serve.” (Lucas 22.25-26 ). O crente não pode querer
aplicar o princípio de autoridade mundano à realidade da igreja. Enquanto no
mundo os líderes são servidos, na igreja os líderes devem ser os primeiros a
servir.
B.
Ambição
Diótrefes
gostava de exercer a primazia (v.9), isto é, desejava ardentemente a liderança
por causa do apego ao poder e à vontade de aparecer. Não é isso que Deus requer
de nós; nada deveria ser feito por vanglória (Filipenses 2.3), e mais uma vez
Jesus pegou seus discípulos pecando em relação a isso. Os apóstolos chegaram a
discutir e contender entre si para saber qual deles era o maior (Lucas
22.24-27). Outro exemplo pode ser observado na ocasião em que a mãe de Tiago e
João pede que seus filhos assentem à direita e à esquerda de Jesus na glória.
(Mateus 20.20-28).
A
liderança não deve ser motivo de ambição, mas sim ser encarada como um
privilégio, uma oportunidade de servir. João aprendeu a lição com Jesus, e
Diótrefes deveria prender com João. Sobre isso, Meu querido amigo e mestre
certa vez observou com muita propriedade a respeito dessa mudança de paradigma
de valores entre pessoas e cargos. Falava ele que, antigamente, quando alguém
era nomeado ou eleito para um cargo dizia-se que o cargo era importante; agora,
no mesmo contexto, a afirmação é de que a pessoa é importante. Ou seja, antes a
pessoa fazia o cargo; agora, o cargo faz a pessoa. Péssima troca.
C.
Enxergar irmãos como concorrentes
O
resultado de buscar a liderança por ambição é enxergar os irmãos como
adversários que concorrem a mesma vaga. Daí, Diótrefes ter adotado duas
estratégias:
a.
“Escrevi alguma coisa à igreja; mas Diótrefes […] não nos dá acolhida.” (v.9) –
Por causa do ciúmes em relação ao apóstolo João, Diótrefes não permitia que
seus escritos fossem lidos na igreja, ou então tratava de argumentar contra.
Esse versículo pode dar a entender também que Diótrefes nem sequer autorizava que
o apóstolo e seus seguidores fossem acolhidos pelos irmãos daquela comunidade.
Se alguém fizesse isso, ele o expulsava da igreja (v.10).
b.
“…proferindo contra nós palavras maliciosas…” (v.10a) – Para diminuir a
influência do apóstolo na comunidade, Diótrefes tratava de desqualificar o
ensino de João ou então distorcê-lo. Esse versículo dá a entender que a maldade
daquele homem incitava-o até mesmo a colocar em dúvida o caráter de João.
D.
Ausência de cooperação e de amor
Os
itens tratados até aqui (abuso de poder, ambição e enxergar irmãos como
concorrentes) são de difícil diagnóstico por serem de certa forma subjetiva, ou
seja, ligados às motivações do coração. É complicado enxergar intenções, mas é
bem mais fácil enxergar ações.
A má
doutrina de Diótrefes era evidente pelo resultado que produzia: falava mal de
irmãos, usava o púlpito da igreja como trincheira para atracar e defender-se,
não era hospitaleiro em relação aos discípulos de João e não permitia que
ninguém os hospedasse sob ameaças de excomunhão.
Jesus
nos ensinou a provar os falsos profetas através de seus frutos. “Pelos seus
frutos os conhecereis.” (Mateus 7.16) – disse ele. Os frutos de Diótrefes
denunciavam quem ele era.
II. O
Bom Exemplo de Liderança (12)
Pouco
se sabe a respeito de Demétrio. Há outra referência a esse nome em Atos 19.24
só que em um contexto totalmente hostil ao evangelho, pois o Demétrio de Atos foi
quem incitou a cidade de éfeso contra Paulo. Teria ele se convertido e agora,
anos depois, servia o apóstolo João, que nessa época morava em éfeso? Não
podemos dizer ao certo. O que sabemos na epístola de 3 João é que havia um
homem, talvez um mestre itinerante, a quem João confiara o trabalho de
restauração de uma das igrejas nos arredores de éfeso. As credenciais de Demétrio
apresentadas por João foram:
A.
Conta com um Bom Testemunho
“Quanto
a Demétrio, todos lhe dão testemunho” (v.12). O testemunho da igreja é algo
essencial no ofício de qualquer função. No Antigo Testamento as pessoas com
quem Deus contava para trabalhar eram chamadas por Ele diretamente, como por
exemplo Moisés, Samuel, Davi, Isaías, Jeremias dentre outros. Eles foram
chamados diretamente por Deus através de sonhos, visões ou por profetas, mas e
no Novo Testamento? Não vemos mais esse mesmo modelo. Um professor de Escola
Dominical, diácono, presbítero ou pastor não pode ficar esperando uma visão ou
sonho para se sentir chamado. O chamado de Deus desde o Novo testamento é
indireto e é operado através da Igreja.
Na
prática, isso funciona com o testemunho. Quando alguns irmãos dizem que você
deveria trabalhar em determinada área da igreja, isso é um testemunho. Na
verdade não é um método inequívoco, mas Deus pode usar nossos irmãos para
confirmar os dons espirituais que recebemos. Era esse processo que João tinha
em mente em relação a Demétrio. João quer deixaria claro que a capacidade de
Demétrio para trabalhar não era algo imposto, mas sim um fato notório pelo
testemunho da comunidade.
Os maus
líderes (como Diótrefes) também contam com simpatizantes, muitos são
ludibriados, ou então por serem neófitos, não dispõem de todas as condições
para discernirem o erro. Por isso João
afirma que o testemunho a respeito do caráter e integridade de Demétrio não só
é validado pelo testemunho de alguns irmãos, mas “até a própria verdade”
(v.12), ou seja, não é algo da boca para fora ou de maneira superficial; era
verdade de fato.
B.
Liderança conquistada, não imposta
A
liderança cristã não é algo que se consiga em um campo de batalha, como pensava
Diótrefes. Jesus foi um exemplo claro disso. Seu primeiro discurso público foi
o Sermão do Monte (Mateus 5 a 7), e após terminá-lo foi inevitável para o povo
comparar suas palavras com o discurso dos mestres locais: “Quando Jesus acabou
de proferir estas palavras, estavam as multidões maravilhadas da sua
doutrina; porque ele as ensinava como
quem tem autoridade e não como os escribas.” (Mateus 7.28-29) Jesus conquistava
discípulos pela força da verdade.
III. O
Exemplo a ser Imitado (11)
A
unidade da igreja é algo conseguido através de bons exemplos. A igreja deveria
ser unida, em primeiro lugar, porque Cristo deixou modelo para isso. Se o
exemplo de Cristo não falha o que falta então? Falta o exemplo dos líderes. Uma
igreja em que existam muitas pessoas com problemas de relacionamento está
certamente repetindo o modelo da própria liderança. O que podemos esperar de uma denominação se
seus líderes ficam a se "morder e devorar" (Gálatas 5.15)? Se isso
acontece, a ruína completa bate à porta. Por isso Paulo, em sua correspondência
com os filipenses, exclamou: “Acautelai-vos dos maus obreiros!” (Filipenses
3.2)
A. A
Tendência Natural – Imitar o mau
“… não
imites o que é mau.” (v.11a) Infelizmente a maior tentação enfrentada diante de
um líder corrupto é agir usando as mesmas armas. É combater fogo contra fogo.
No caso da epístola em questão, duas eram as formas de imitar o mau exemplo.
a.
Imitando Diótrefes – Ser simpatizante da doutrina desse falso mestre.
B.
Imitando os métodos de Diótrefes – se Gaio, o destinatário da carta, usasse dos
mesmos métodos sujos contra o próprio Diótrefes, ele o teria como exemplo. Os
maus não podem ser combatidos com métodos pecaminosos.
O
cristão deve sempre lembrar-se que, mesmo após sua conversão, o coração ainda
tem desejo pelo mal. Daí a necessidade de sempre avaliar as atitudes. Isso nos
remete ao próximo ponto:
B.
Exercer uma liderança coerente
Se
nosso objetivo é santo e agradável a Deus, os meios pelos quais chegaremos a
esse objetivo precisam ser também.
“Aquele
que pratica o bem procede de Deus; aquele que pratica o mal jamais viu a Deus.”
(v.11b). Uma das características mais marcantes da boa liderança é a coerência:
“Bem-aventurado é aquele que não se condena naquilo que aprova.” (Romanos
14.22)
Conclusão
Certa
vez Paulo disse: “Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo.” (1 Coríntios
11.1) Naquilo em que ele seguia a Cristo, desejava ser seguido também. Essa é
uma boa liderança. Todo líder é um exemplo, daí a necessidade de nos parecermos
cada vez mais com Cristo para que nossos exemplos sejam bons e não maus. Temos
que ser mais parecidos com Demétrio e diferentes de Diótrefes.
Quando
pensamos em liderança, muitos pensam logo em altos cargos. Quando você exerce
seu dom na igreja, de alguma forma você também se torna um líder na sua área de
atuação. Com quem você se parece mais no exercício de sua responsabilidade, com
Diótrefes ou com Demétrios?
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